quarta-feira, 13 de novembro de 2013

AUTOCONHECIMENTO

EM VEZ DE PASSAR A VIDA SE CHICOTEANDO, QUE TAL SUBSTITUIR A CULPA, ESSE SENTIMENTO TÃO DOLOROSO E DESTRUTIVO, POR UMA PALAVRINHA: COMPREENSÃO?
Até que se prove o contrário, ainda não inventaram uma maquininha que nos faça voltar no tempo e agir de maneira diferente para remediar determinada situação. Somente no cinema isso é possível. Deve ser por isto o tamanho sucesso (já há duas décadas) do filme De Volta para o Futuro: a vontade que muitas vezes sentimos de regressar e fazer tudo de outro jeito. Para aliviar a culpa que nos atormenta. E se naquele dia eu tivesse agido diferente? E se tivesse ido por outro caminho, se dissesse aquela palavra que tanto queria dizer, ou se não tivesse sido teimoso? Ninguém tem bola de cristal para saber o que aconteceria, e o que está feito, está feito. Mas quando essa série de perguntas aparece, a impressão que dá é que a culpa é a mãe das frases no condicional que nos causam mais angústia. Repare. Sem culpa, este tempo verbal não teria a menor graça.
A verdade é que revolver o passado é uma de nossas (vãs) artimanhas para tentarmos nos livrar deste fardo que carregamos nas costas: a culpa. Ela nos faz perder o sono, traz dor no peito, nó na garganta. Martela dia e noite em nossa cabeça. Graças a seu poder devastador, costuma ser utilizada frequentemente e com sucesso como o principal instrumento de quem gosta de fazer chantagem emocional. É amiga e vizinha de outra tinhosa, a vergonha. A culpa se senta como um urubu nos ombros de todos nós, diz o psicólogo James Hollis, diretor do Centro de Estudos Jung de Houston, nos Estados Unidos. Todos nós? Sim, todos. Ninguém está livre de sentir culpa ela é inerente a nossa vida.
É lógico que há quem se sinta mais ou menos culpado. E também há jeitos e jeitos de lidar com esse sentimento. Se não podemos viver sem culpa, também não precisamos fazer com que ela seja corrosiva muito menos que sirva de álibi para remexermos aquilo que já foi feito. O pulo do gato é que a culpa pode, sim, ser um poderoso instrumento de transformação e conhecimento, e até mesmo se converter em um substantivo bastante construtivo: a responsabilidade, por exemplo.

 
(Texto Mariana Sgarioni fotos André Spinolla e Castro)